terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sobre democracia e certas impressões...

Nos últimos dias muito tem se falado da candidatura de figuras um tanto inusitadas, destacando-se a do comediante Tiririca, da dançarina Mulher Melão, do cantor Netinho e do ex-jogador de futebol Romário.

A grande maioria dos comentários são carregados de ironia e um certo toque de comicidade, isto por que para a maioria trata-se de verdadeira bizarrice as referenciadas candidaturas.

Diante desse quadro e buscando uma explicação para o mesmo, duas alternativas me parecem razoáveis.

A primeira é que aqueles que se manifestaram acreditam que os espaços representativos democráticos devem ser preenchidos por pessoas capacitadas (será que não o são? Eu divago...), mas ai o que vai dizer quem é ou não capacitado são outros 500 (e se for mesmo essa a razão para os comentários, fico feliz... Lamentando apenas que os argumentos utilizados são lastreados em preconceitos).

A segunda é no sentido de que percorre o imaginário das pessoas um certo padrão de candidatos, ou seja, a figura do político esta estigmatizada. Se o político não tem uma oratória recheada de sofismas, se ele não se vale de retórica, se ele não se apresenta com vestimentas mais formais, ele não é um bom político.

Logicamente que essa leitura não tem respaldo cientifico, é baseada em experiências pessoais, em conversas, em minhas observações do dia-a-dia.

Mas o que eu acho dessas candidaturas?

Bom, ao meu ver elas são inerentes à Democracia. E devem ser louvadas partindo desse prisma, já que se trata de um direito elencado em nossa Constituição – a de que qualquer cidadão, respeitados os requisitos mínimos, pode se candidatar – direito este conquistado a duras penas (Não vou tratar aqui de teorias de domínio, da provável capacidade de manipulação dos grandes meios de comunicação, de manutenção do poder... Tudo isso vou deixar para um post próprio.)

Outra leitura possível, só que mais romantizada, é no sentido de que essas candidaturas são verdadeiras críticas à atual política nacional, melhor, aos elementos humanos que compõem os quadros do legislativo e do executivo. O dingle da campanha do Tiririca reflete bem essa idéia: _Pior do que está não pode ficar!

Na verdade pode ficar bem pior sim, e é por isso que a população deveria se interessar mais por política, buscar saber sobre direitos e deveres, exercer uma fiscalização efetiva, e principalmente exercer o seu direito de voto de forma responsável e sensata.

Vai ser ruim (!?) ver Tiririca, Mulher Melão, Romário entre outros nas Assembléias, na Câmara, no Senado... Pior ainda vai ser ver Collors, Genuínos, Barbalhos, Sarneys, Rivas, Fagundes, mensaleiros de toda espécie ocupando NOVAMENTE esses lugares!

Para quem ainda não viu:

domingo, 29 de agosto de 2010

Sobre os últimos dias...

Pessoal, tirei os últimos dias para refletir… Refletir sobre muitas coisas: vida pessoal, planos, expectativas e, principalmente, sobre política e política no Brasil.

Assisti religiosamente a todos os programas eleitorais vinculados no horário político. Assisti aos debates – que ocorreram em diferentes veículos de informação. Participei de acaloradas discussões via Twitter, telefone, email, reuniões em partidos, em sala de aula, mesas de bares e afins. Ao fim, algumas impressões e questionamentos estão a ocupar espaço em meus pensamentos.

No que se refere aos candidatos – excluídos aqui as bizarrices que são as candidaturas de Tiriricas e Mulheres Melão da vida e as ilegalidades que são as liberações de candidaturas de mensaleiros, criminosos, políticos “ficha suja” tipo o Dep. Riva, W. Fagundes e correlatos [só para citar os locais] por que isso é assunto para um post exclusivo, mas eu divago... – a impressão que tenho é que eles sequer têm idéia do que se trata a tri-partição dos poderes. É candidato do executivo prometendo leis, é do legislativo prometendo ações afetas ao executivo/judiciário. Enfim, totalmente despreparados para ocupar os espaços democráticos, para nos representar. Afinal, como pode alguém que sequer entende do que se trata a função pode, enfim, ocupa-la?

Outra impressão latente é quanto aos discursos utilizados. A prática mostra que estou enganado, mas jurava que o mais importante seriam a apresentação de propostas, apresentação de leituras críticas acerca da atual conjuntura, apontando, por conseguinte, medidas transformadoras. Mas o que se percebe dos três principais candidatos à presidência é um discurso preocupado em fazer com que as pessoas – leia-se beneficiários de programas como o Bolsa-Família – acreditem que as atuais políticas irão continuar. Dilma, Serra e Marina estão fazendo de tudo para pegar uma carona no barco populista do nosso atual presidente. Isso se dá também na esfera estadual.

O primeiro questionamento é quanto à forma como os candidatos trabalham com números, dados e correlatos. Todos eles se aproveitam da já comprovada incapacidade do povo brasileiro em interpretar textos para pulverizar versões, no mínimo equivocadas, de análises sobre a nossa economia, sobre os índices da saúde, de segurança, da educação (só para citar os mais populares). Todos eles usam números para apontar uma suposta melhora, ou para comparar um governo com o outro, desconsiderando um complexo de outros fatores. Desconsiderando as influências externas em cada período. E a massa come e engorda com toda essa falácia.

Um olhar um pouco mais crítico vai questionar tudo isso sem fazer a mínima força. A conjuntura político-econômica de 1994, por exemplo, é totalmente distinta da encontrada em 2002.

Mas o povo não tem memória e se esquece das manifestações, dos posicionamentos, dos mensalões, dos dólares em cuecas, meias e afins... Se deixam levar pelas migalhas que lhes são lançadas sem saber que estão pagando um preço muito alto por estas.

Quadro mais crítico se observa entre os jovens –historicamente forças motrizes capazes de gerar mudanças– os quais ignoram a política –taxando esta de chata e sem importância– e qualquer espécie de organização em prol de alterações do atual quadro.

Mas o maior dos questionamentos é quanto a minha posição. Será que não sou eu o errado nessa história? Será que o certo é achar que o único ato de cidadania que devemos praticar é o voto –o qual é obrigatório– e pronto? Será que é livrar o seu e punto e basta?

Digam ai o que vocês acham... Enquanto isso, continuo a pensar aqui...

PS.: abaixo, um vídeo do Jabor só para relembrar os esquecidos sobre coisas de nossa política